quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Manhattan

''Uma idéia para uma pequena história sobre as pessoas em Manhattan, que estão constantemente criando problemas neuróticos desnecessários, pois isso evita que enfrentem problemas indecifráveis e terríveis sobre o universo. Bem, tem que ser otimista. Por que vale a pena viver? Esta é uma pergunta ótima. Bem, há certas coisas que fazem valer a pena. Como o quê? Para mim...Eu diria que, Groucho Marx, por exemplo...e Willie Mays...e o segundo movimento da sinfonia de Júpiter e a gravação de Potatohead blues de Louis Armstrong...filmes suecos, naturalmente. Educação Sentimental de Flaubert. Marlon Brando. Frank Sinatra. Aquelas incríveis maçãs e peras de Cèzanne. Os siris de Sam Wo's. O rosto de Tracy.''

Isaac Davis (Woody Allen)


Trecho do filme: http://www.youtube.com/watch?v=h5owXCZ0CDg

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

RocknRolla

Bom, confesso que escrever não é bem um tipo de terapia para mim, acho que tem mais a ver com disciplina, mas como o convite foi feito pela minha irmãzinha e o assunto é cinema, e cinema sim, é uma terapia, então pode ser que dê certo, senão vou postando uns desenhos meio toscos que faço de vez em quando!

Vou confessar outra coisa, sou um pouco desatualizada em relação aos filmes que escolho pra assistir, mesmo quando vou ao cinema não costumo optar pelos últimos lançamentos, a não ser que seja um filme que eu esperava muito para ver por ser de algum diretor ou ator que eu goste. Portanto, não se assustem pelos títulos desenterrados.





Um dia desses assisti RocknRolla, dirigido pelo Guy Ritchie e lembrei que Jogos, trapaças e dois canos fumegantes foi o primeiro dvd que comprei para começar minha coleção de filmes, é um filme que eu recomendei para todo mundo. O ritmo, a fotografia e os ângulos da câmera eram diferentes de tudo que já tinha visto e tem uma ótima trilha sonora. A história é violenta, mas contada com certo humor, grupos de gângsteres, cada qual com um estilo e linguajar próprio, envolvidos com problemas diferentes, mas que ao longo de diversos acontecimentos acabam entrelaçados e, sem contar o final que é realmente surpreendente.


Depois, é claro que fiquei ansiosa para ver Snatch – Porcos e diamantes. Seguindo o estilo de Jogos, trapaças e dois canos fumegantes, o filme mantém atmosfera do submundo londrino interessante, tudo o que vimos no primeiro filme se acentuou em Snatch, as gangues aumentam e são mais caracterizadas, o que não significa que torne o filme melhor, mas ver Brad Pitt com sotaque cigano foi brilhante.

Em RocknRolla, o mesmo universo é explorado, desta vez com gangsteres mais poderosos, que comandam não só o mundo do crime, mas a cidade inteira. Apesar de envolver peixes maiores na história, tudo parece ter se tornado mais simples, as dívidas foram feitas e pagas com mais facilidade, os problemas foram resolvidos sem aquela tensão que se encontrava em Jogos...e Snatch. Conhecendo o final dos dois primeiros filmes, já se espera que Gerard Butler, que interpreta One Two, um criminoso sem muita experiência, saia são e salvo de qualquer risco que correria, mesmo quando todos os gangsteres se juntam em sua casa e colocam um saco preto em sua cabeça, era de se imaginar que ele se livrasse de todo sufoco fazendo piadinhas com seus parceiros e com o rockstar Johnny Quid, concluindo a história com mais um grande final e que sugere uma continuação chamada The Real RocknRolla.

Guy Ritchie quis contar de maneira bem-humorada, as conseqüências de se tentar entrar no ramo imobiliário em Londres e enfrentar os empresários deste negócio, que têm poder sobre a cidade e fazem parte da velha guarda do crime, e conseguiu seu objetivo, usando humor negro em alguns atos que se tornariam clichês de gangsteres e uma edição que torna as seqüências mais rápidas, tornando o ritmo mais continuo e divertido.

A receita é quase a mesma, mostrar a sombria Londres e seus malandros e talvez já tenha ficado um pouco previsível, mas ainda assim, a curiosidade de descobrir o que é ser um verdadeiro RocknRolla continua.

Abraços Partidos (todo mundo adora histórias de amor...)

Faz um tempo que eu estava postergando esse projeto: criar um blog... pq? pq escrever pra mim, sim, claro, terapêutico (eu sou terapeuta, eu sei disso!), mas também há um tanto de sofrimento, de doação, quase um parto (e eu sempre acho que prematuro), no ato de escrever.... mesmo sendo uma coisa simples, ou boba, como um diário ou livro de receitas, que talvez ninguém nem vá ler.... é que eu acho que escrever, colocar a sua opinião ali, seu modo de vivenciar o mundo, é algo tão íntimo.... acho por isso os escritores são meio reservados... tb, já vomitaram todo o seu âmago no papel!!! (ou na tela, se for o caso...) Mas tenho inveja de quem sabe escrever....

Mas não se preocupe, não vou contar as fofocas do dia nem passar receita de bolo de cenoura aqui no Cinema, coisa e tal.... A não ser que a fofoca seja muito boa, e olha que eu adoooro bolo de cenoura!!! rsrs Ainda mais que tenho uma gastrônoma como colaboradora, a minha companheira preferida nas sessões cinéfilas, a minha querida irmã Lúcia. Aqui, vamos falar sobre cinema, literatura, música, etc e tal, como bons amigos numa mesa de bar... mas nada de falar mal do Corinthians nem final de novela, ok?

Bom, pra começar (e bem!!), vamos falar de um filme que eu estava ansiosíssima pra ver, de um diretor que eu amo, Pedro Almodóvar. Ansiosíssima, pq não consegui assisti-lo na Mostra de Cinema, mas valeu a espera, não saí nem um pouco decepcionada da sessão. Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos) é um pouco mais sutil do que costumam ser os filmes de Almodóvar. Há um suspense velado, uma frágil tensão percorrendo a história, que nos envolve a cada cena. A impressão que se tem é que a qualquer momento o filme vai deslanchar para um dramalhão, mas na direção desse mestre espanhol, o que temos é uma obra genial.

Sim, é um filme sobre o amor... eu adoro histórias de amor! quem não gosta? Daquelas de perder o fôlego e recuperá-lo aos suspiros.... E quando digo amor, leia-se paixão incandescente, loucura, perdição! Pq o amor "puro", aquele do Platão, dos românticos, que ruboriza por qualquer pisão no pé, depois morre de amor sem ter amado, aquele que é a língua dos anjos... esse amor é lindo, é transcedental.... mas vamos falar a verdade, não funciona na telona né, gente? O amor no cinema está nos extremos, e assim é nos filmes de Almodóvar.

Bem, mas o filme tb trata dessa perda de privacidade que fica evidente num voyeurismo hitchicockiano com que o obcecado marido de Lena (Penelope Cruz) a persegue, usando o próprio filho submisso para tanto. Já disse Milan Kundera em A insustentável leveza do ser: "Quem perde a sua própria intimidade perde tudo."

Há várias referências cinematográficas no filme, um prato cheio para os cinéfilos. Como a cena em que a personagem de Penélope é produzida para uma sessão de fotos e diz-se q está perfeita, idêntica a Audrey Hepburn. Mas em seguida está de peruca platinada, a la Marilyn Monroe, uma identificação mais coerente, anunciando seu fim trágico. Assim como quando o casal assiste a Viagem à Itália, referência talvez um pouco forçada a essa altura. O diretor reforça ainda sua paixão pelo cinema, conduzindo um filme dentro do filme, uma comédia kitsch que remonta a seus antigos trabalhos.

Em paralelo a trama principal, há várias pequenas histórias acontecendo. E talvez esse seja o tema mais interessante de que trata o filme: como não nos apercebemos de tanta vida ocorrendo a nosso redor, tão ocupados que estamos alimentado nosso próprio ego... Isso é explicitado qdo o personagem de Lluís Homar revela algumas fotos e diz não ter se dado conta de um casal na praia que acaba aparecendo em uma das fotos. Fato esse q Almodóvar disse ter realmente acontecido com ele e que foi o ponto inicial de toda a história.