terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Abraços Partidos (todo mundo adora histórias de amor...)

Faz um tempo que eu estava postergando esse projeto: criar um blog... pq? pq escrever pra mim, sim, claro, terapêutico (eu sou terapeuta, eu sei disso!), mas também há um tanto de sofrimento, de doação, quase um parto (e eu sempre acho que prematuro), no ato de escrever.... mesmo sendo uma coisa simples, ou boba, como um diário ou livro de receitas, que talvez ninguém nem vá ler.... é que eu acho que escrever, colocar a sua opinião ali, seu modo de vivenciar o mundo, é algo tão íntimo.... acho por isso os escritores são meio reservados... tb, já vomitaram todo o seu âmago no papel!!! (ou na tela, se for o caso...) Mas tenho inveja de quem sabe escrever....

Mas não se preocupe, não vou contar as fofocas do dia nem passar receita de bolo de cenoura aqui no Cinema, coisa e tal.... A não ser que a fofoca seja muito boa, e olha que eu adoooro bolo de cenoura!!! rsrs Ainda mais que tenho uma gastrônoma como colaboradora, a minha companheira preferida nas sessões cinéfilas, a minha querida irmã Lúcia. Aqui, vamos falar sobre cinema, literatura, música, etc e tal, como bons amigos numa mesa de bar... mas nada de falar mal do Corinthians nem final de novela, ok?

Bom, pra começar (e bem!!), vamos falar de um filme que eu estava ansiosíssima pra ver, de um diretor que eu amo, Pedro Almodóvar. Ansiosíssima, pq não consegui assisti-lo na Mostra de Cinema, mas valeu a espera, não saí nem um pouco decepcionada da sessão. Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos) é um pouco mais sutil do que costumam ser os filmes de Almodóvar. Há um suspense velado, uma frágil tensão percorrendo a história, que nos envolve a cada cena. A impressão que se tem é que a qualquer momento o filme vai deslanchar para um dramalhão, mas na direção desse mestre espanhol, o que temos é uma obra genial.

Sim, é um filme sobre o amor... eu adoro histórias de amor! quem não gosta? Daquelas de perder o fôlego e recuperá-lo aos suspiros.... E quando digo amor, leia-se paixão incandescente, loucura, perdição! Pq o amor "puro", aquele do Platão, dos românticos, que ruboriza por qualquer pisão no pé, depois morre de amor sem ter amado, aquele que é a língua dos anjos... esse amor é lindo, é transcedental.... mas vamos falar a verdade, não funciona na telona né, gente? O amor no cinema está nos extremos, e assim é nos filmes de Almodóvar.

Bem, mas o filme tb trata dessa perda de privacidade que fica evidente num voyeurismo hitchicockiano com que o obcecado marido de Lena (Penelope Cruz) a persegue, usando o próprio filho submisso para tanto. Já disse Milan Kundera em A insustentável leveza do ser: "Quem perde a sua própria intimidade perde tudo."

Há várias referências cinematográficas no filme, um prato cheio para os cinéfilos. Como a cena em que a personagem de Penélope é produzida para uma sessão de fotos e diz-se q está perfeita, idêntica a Audrey Hepburn. Mas em seguida está de peruca platinada, a la Marilyn Monroe, uma identificação mais coerente, anunciando seu fim trágico. Assim como quando o casal assiste a Viagem à Itália, referência talvez um pouco forçada a essa altura. O diretor reforça ainda sua paixão pelo cinema, conduzindo um filme dentro do filme, uma comédia kitsch que remonta a seus antigos trabalhos.

Em paralelo a trama principal, há várias pequenas histórias acontecendo. E talvez esse seja o tema mais interessante de que trata o filme: como não nos apercebemos de tanta vida ocorrendo a nosso redor, tão ocupados que estamos alimentado nosso próprio ego... Isso é explicitado qdo o personagem de Lluís Homar revela algumas fotos e diz não ter se dado conta de um casal na praia que acaba aparecendo em uma das fotos. Fato esse q Almodóvar disse ter realmente acontecido com ele e que foi o ponto inicial de toda a história.


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